Temos uma memória muito curta, e o mau hábito de não valorizar a sabedoria ancestral ao aceitar, sem avaliar, o que nos é imposto como verdade. Nossa história com os pães é um ótimo exemplo deste fato. O pão é um dos alimentos mais antigos do mundo, e já foi determinante para a manutenção da nossa espécie, no passado remoto, em tempos de miséria e de fome.
A panificação tem cerca de 8000 anos, e até a Revolução Industrial consumíamos pães de fermentação natural. Somente a partir do ano de 1760 passamos a utilizar o fermento biológico industrializado, para aumentar a produtividade na produção de pães (agilidade, rapidez, quantidade).
Entramos no modo “vida moderna”, que prima pela rapidez e des-humaniza, nos afasta de nossa essência. Estabeleceu-se o fast food ! Isto é, foram 7.760 anos de fermentação natural e apenas 240 afastados desta técnica. Percebe quando eu digo que temos memória muito curta? Que nos afastamos da essência? Que aceitamos o que acontece a, apenas, 240 anos, como se fosse a nossa verdade? Está certo que, hoje, uma grande parcela da sociedade não experimenta mais miséria ou fome. Mas ansiedade, depressão, insônia, e muitas “ites” crônicas.
Se tem alguém que pode fazer toda a diferença para o estabelecimento de novos hábitos alimentares são os Gastrônomos. As tendências mais fortes da Gastronomia do século XIX se apoiam em pesquisa científica multidisciplinar e apontam para um retorno ao que é essencial.
Na panificação, os pães de fermentação natural têm tido muito destaque. Fazer e/ou consumir pães feitos em casa tem se mostrado uma experiência terapêutica (em todos os sentidos da palavra) para muitos. Os alunos formandos do Senac Blumenau Caroline S. Wendorf, Débora L. Zavadniak, Eduarda C.B.Geremias e Gabriel H.Bretzke escolheram a panificação de fermentação natural como objeto de trabalho de pesquisa com o intuito de discutir a história da panificação e estabelecer este diálogo saudável com a comunidade.
Profissionais conscientes e com visão crítica, que vão transformar o futuro dos nossos filhos. Muita coisa boa vem por aí!
Por Patrícia Balistieri
*Professora da Faculdade Senac Blumenau
O texto acima foi enviado voluntariamente para a seção Opinião do Blog do Observatório da Gastronomia.